Associação Tigre Branco de Artes Marciais
domingo, 12 de fevereiro de 2012
A Honra de ser karateca
“Ensinar a
dar socos e pontapés e uma tarefa fácil. Mas este não e o objectivo do Karate.
Temos um grande compromisso com a sociedade”. Era o que afirmava constantemente
o Mestre Sagara aos professores antigos,nos cursos e treinos que ministrava a
esses professores.
Era uma alerta quanto ao rumo que o Karate-Do
estava a tomar.
Afirmava que
o conceito que se criou em torno do Karate moderno não somente excluía um
passado de tradições, mas desvirtuava o verdadeiro sentido da Arte.
Infelizmente,
o factor competição tem sido a causa principal do desvio dos princípios
essenciais da nossa Arte. Pensando-se apenas em criar campeões, as academias
vem perdendo a sua aura sagrada, pois Dojo significa local de aprimoramento do
ser humano na sua plenitude, não somente no aspecto físico, mas também no
mental, no psíquico e no espiritual.
Praticar o
Karate-Do a partir dos princípios do Budo, código de honra dos guerreiros
Samurais, leva-nos a trilhar o Caminho do crescimento e da evolução. Crescer e
evoluir significa tornar-se mais sábio. E a verdadeira sabedoria nos revela
entre tantas, a virtude da humildade. Por isso, o sábio assume a sua
ignorância, pois esta ciente do malefício que o ego inflamado provoca, tornando
as pessoas arrogantes e fechadas em si mesmas. Tornando-se sapos de poço que
desconhecem oceano, como dizia Mestre Sagara.
E isto é o
que acontece com as pessoas que colocam a competição como o único objectivo do
Karate-Do. Isto atinge não somente os atletas, mas professores e dirigentes.
Exercitar
uma aula não basta. E necessário, antes de tudo, honrar a Arte deixada pelos
Mestres. Nesta perspectiva, praticar o Karate-Do não é simplesmente vestir o
kimono e suar. Deve-se considerar o Dojo um campo de batalha; o kimono, uma
armadura; e o nosso inimigo, que enfrentaremos num kumite interminável, o nosso
ego cheio de medos e fraquezas que relutamos em aceitar. Ao treinar, encarar o
treino como se fosse o derradeiro de nossa vida. Realizar cada movimento e cada
respiração em Zanchin - estado de alerta - através da atenção plena, como se
disto dependesse a nossa sobrevivência.
Através da
atenção plena, podemos direccionar a nossa vida para o verdadeiro Caminho, pois
a finalidade do Karate-Do é promover a harmonia em todos os aspectos de nossa
vida. Na atenção plena da mente, somos capazes de observar e conter as nossas
impulsividades e atitudes negativas originadas de nossos hábitos e automatismos
que nos tornam inconscientes, tal como os praticantes que buscam a supremacia
não somente nas competições, mas em outras actividades humanas na qual
participam.
Num mundo
marcado por tantas contradições, é uma honra pertencermos à classe dos
Karatecas, verdadeiros guerreiros modernos. Pois praticar o Karate-Do na sua
essência, coloca-nos em sintonia com a Sabedoria Ancestral e a Força Interior
de todos os Mestres que dedicaram as suas vidas à Arte desejando forjar pessoas
com personalidades saudáveis para a criação de um mundo mais pacifico e justo.
E creio que foi com este pensamento
que o O-Sensei Gingin Funakoshi escreveu:
“... Pense
na vida de cada dia como um treino em Karate. Não limite o Karate apenas ao
Dojo, nem o considere apenas um método de luta... o espírito nascido do esforço
e ranger dos dentes de frio no treino durante o Inverno, ou nascido do suor do
treino do verão, pode ser-lhe muito útil no seu trabalho. E o corpo que se
forjou nos pontapés e nos socos da prática intensa não sucumbira as provocações
de não estudar para um exame difícil ou de não levar a cabo uma tarefa
enfadonha. Alguém cujo espírito e força mental, se fortaleceram através das
lutas com uma atitude de nunca desanimar, não deve encontrar dificuldade em
enfrentar nenhum desafio, por maior que seja”.
A PARÁBOLA DO FAIXA
PRETA.
Certa vez,
um praticante de artes marciais estava ajoelhado diante do seu mestre, para
realizar a cerimónia de receber a sua faixa preta que foi obtida com muito
suor. Depois de muitos anos de treino incansável, o aluno finalmente havia
chegado ao que comummente julga-se ser o auge de uma disciplina marcial.
“Antes que
lhe dê a faixa preta, você precisa passar por um outro teste”, diz o Sensei.
“Estou
pronto” responde o aluno, talvez esperando pelo último combate.
“Você tem
que responder a uma pergunta essencial: Qual é o verdadeiro significado da
faixa preta?”
“O fim da
minha jornada”, responde o aluno. “Uma recompensa merecida pela minha
dedicação, o reconhecimento do meu treino”.
O Sensei
espera alguns minutos, demonstrado que ainda não está satisfeito com a
resposta. Então, o Sensei diz: “Você ainda não esta pronto para receber a faixa
preta. Volte daqui a um ano”.
Passado mais um ano, o aluno ajoelha-se
novamente em frente do Sensei.
“Qual é o
verdadeiro significado da faixa preta?”. Pergunta o Sensei.
“É o símbolo
da excelência, é o nível mais alto que se pode atingir na nossa arte”, responde
o aluno.
O Sensei
fica em silêncio, esperando por um complemento à resposta. Por fim, ele fala.
“Você ainda não esta pronto para a faixa preta. Volte daqui um ano”.
Um ano
depois, o aluno ajoelha-se novamente em frente do Sensei. E mais uma vez o
Sensei pergunta: “Qual é o verdadeiro significado da faixa preta”.
“a faixa
preta representa o começo, o início de uma jornada sem fim, de disciplina,
trabalho e busca do aperfeiçoamento não somente técnico, mas também do
carácter”, responde o aluno.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Código de conduta do faixa preta
"O fator mais importante na arte do Karatê não está
baseado na vitória ou na derrota, mas no aperfeiçoamento do caráter dos seus
participantes" Mestre Guichin Funakoshi
Kara significa "vazio", tê significa
"mãos" e Do significa"caminho". Dessa forma, o significado
mais direto deKaratê-Do é "o caminho das mãos vazias", explicitando o
fato de que, no Karatê, não se pratica o uso de nenhum tipo de arma. O Karatê é
uma arte de defesa pessoal em que o corpo e a mente trabalham perfeitamente
entrelaçados.
Shotokan é o nome do estilo de Karatê praticado na ALNKK.
Atualmente este é gênero mais popular no mundo . Apesar da história do Karatê,
e das artes marciais asiáticas em geral, ser bastante nebulosa pela falta de
registros históricos, a história do estilo Shotokan é bastante conhecida e
acessível, pois é um estilo realtivamente moderno, com menos de 100 anos de
existência.
O seu fundador foi Guichin Funakoshi (foto). Funakoshi
também foi o homem que apresentou o Karate ao resto do Japão, pois antes este
só era praticado na ilha de Okinawa. Shoto era o nome com que Guichin Funakoshi
assinava os seus poemas. Quando inaugurou a sua primeira escola de Karate, seus
alunos a chamaram de Shotokan ("escola de Shoto"), em homenagem ao
seu mestre.
CÓDIGO DE CONDUTA DO FAIXA PRETA
Eu ajo como um faixa preta:
Uso o meu uniforme (Kimono) apropriadamente, mantendo-o
limpo e passado.
Cuidando da minha faixa e do meu uniforme (Kimono).
Estou com o uniforme completo em todas as aulas (casaco,
calça e cinto).
Removo todos os acessórios (relógio, brincos, correntes,
etc.) antes de iniciar a aula.
Mantenho sempre as minhas unhas cortadas.
Fico na postura de “shizei tai” esperando ser atendido se
desejar conversar com os instrutores ou demais colegas.
Respondo “sim senhor (a)” ou “não senhor (a)”
apropriadamente em conversas com instrutores ou demais colegas.
Volto rapidamente à minha posição se os instrutores pedirem
e ficando a mais de três passos se desejar ficar em frente deles.
Fico em pé quando o instrutor entrar em sala de aula.
Fico em pé para cumprimentar os visitantes, colegas e
instrutores com o devido respeito.
Levanto a mão se não entender o comando.
Fico de costas para o instrutor ou colegas quando estiver
ajeitando o Kimono ou a faixa.
Mantenho-me descalço sempre que estiver dentro do Dojo.
Oriento as pessoas a não fumarem tabaco ou produtos
alcoólicos, enquanto estiver usando uniforme, num Dojo da associação tigre
branco ou em qualquer evento da associação.
Não usando e nem permitindo o uso de apelidos ou palavrões
no arredor da escola e nos eventos da associação.
Avisando os instrutores, se por algum motivo tiver que
faltar a uma aula.
Não mascando chiclete durante a aula ou quando estiver
fazendo exercícios no Dojo.
Cumprimentando com respeito à área de treino todas as vezes
que entrar ou sair dela.
Lembre-se: A nossa filosofia é para toda a sua vida, por
isso, o Senhor(a) é aluno 24 horas por dia, tenha uma conduta apropriada o
tempo todo.
Sobre o Mestre Nakayama
Conversações com mestre Nakayama.
Esse texto foi encontrado em uma velha apostila e digitado
pelo Sensei Cesar Estivales. É de fundamental importância a todo Karateca que
busca comprender a maneira como aconteceu em determinada época a evolução e
desenvolvimento do Karate. Nosso objetivo em postar esse material é
simplesmente colaborar para o bem do Karate-Do e o esclarecimento de muitas
questões históricas aqui relatadas pelas palavras do próprio Mestre Nakayama.
Prof. André S. Maraschin
CONVERSAÇÕES COM MESTRE NAKAYAMA
Traduções
Quando comecei estas traduções, esperava que pudesse apenas
buscar informações sobre meu trabalho, mas à medida que lia, sentia uma
necessidade profunda de mudar. Mudar minha visão do KARATE, minha visão sobre a
vida.
Conhecendo um pouco deste grande líder e de seu mestre, o
prof. Funakoshi, será possível ao leitor rever seus pensamentos sobre o
verdadeiro caminho das mãos vazias.
Espero que esse empreendimento que hora começamos, dê um
alento e faça ressurgir o sentido de autoconhecimento; o verdadeiro KARATE-DO.
Prefácio
Masatoshi Nakayama tinha acabado de voltar de sua longa
estadia na China, quando eu entrei para o clube de Karatê da Universidade de
Takushoku em 1947. Naquele tempo, Mestre Nakayama era assistente do Mestre
Gichin Funakoshi, o fundador do KARATE-DO japonês, e era o instrutor do time de
Karatê da Universidade de Takushoku.
Depois de 2 anos de treinamento em era convidado a entrar
para a seleção, e depois de meu terceiro ano na universidade todos os membros
da equipe foram convidados a viver nos dormitórios da universidade, então nós
poderíamos treinar juntos dia e noite. Mestre Nakayama viria para o dormitório
e ficaria conosco 2 vezes por semana para nos assistir em nossos treinamentos,
e foi durante este tempo que vivia conosco que ele e eu desenvolvemos uma forte
amizade.
Até o final de meu terceiro ano eu me tornei o capitão da
equipe de Karatê da Universidade de Takushoku e isto aumentou fortemente o
relacionamento entre Mestre Nakayama e eu.
Durante os treinamentos da equipe, Mestre Funakoshi vinha em
pessoa e observava nossa prática uma vez por semana. Ele se sentava no fim da
sala de treinamento, no chão, num estado de profunda concentração, e ele nos
oferecia seus conhecimentos sobre técnicas e suas profundas filosofias pessoais
sobre os aspectos do KARATE-DO e a vida em geral. Foi desde aquela época que eu
vim a perceber que todas as filosofias de Mestre Funakoshi, as técnicas e as
idéias tinham sido completamente absorvidas por Mestre Nakayama.
Há muitas personalidades nas artes marciais hoje, mas eu
estou convencido que Masatoshi Nakayama é um verdadeiro mestre em todos os
sentidos da palavra e nós somos afortunados por tê-lo vivendo nestes dias e
nesta época nos liderando e guiando-nos nas técnicas, filosofias e caminhos do
Mestre Funakoshi. Mestre Nakayama é verdadeiramente um grande homem.
Muitos livros, suas extensivas viagens, sua natureza e
personalidade em geral – que está completamente aberta e franca – tem feito
dele uma reconhecida figura mundial.
Eu acredito que aqueles que leram seus livros e estudaram os
pensamentos de Mestre Nakayama encontrarão motivos para examinar e reexaminar
os profundos significados do KARATE-DO.
É necessário apresentar Masatoshi Nakayama somente para
aqueles que nunca se envolveram com os treinamentos de KARATE. No âmbito
mundial, seu nome é tão familiar quanto o nome de D. Pedro I é para as crianças
das escolas brasileiras. Então para aqueles leitores que não são artistas
marciais é necessário dizer que Masatoshi Nakayama foi o Grande Mestre da
Associação Japonesa de KARATE (JKA), a maior e mais poderosa organização de
KARATE.
9º Grau faixa preta, Nakayama foi o mais antigo e mais velho
aluno de Gichin Funakoshi, o homem que introduziu o KARATE de Okinawa no Japão
em 1922. Foi sob a orientação direta de Funakoshi que Nakayama aprendeu KARATE,
e foi Funakoshi que oficialmente designou Nakayama para passar a arte às
futuras gerações.
É inimaginável que alguém, em algum lugar da Terra não tenha
ouvido a palavra “KARATE”, e se essa pessoa puder ser encontrada, há poucas
dúvidas que Mr. Guiness (o mesmo do livro de recordes) gostaria de falar com
ele ou ela. A entrevista que se segue com o homem que, mais do que ninguém foi
o responsável por este amplo conhecimento do KARATE, “O caminho das mãos
vazias”.
Foi ele que, sob orientação de Gichin Funakoshi, desenvolveu
e implementou os conceitos de KARATE ESPORTE nos inícios dos anos de 1950,: e
foi ele quem guiou a JAPAN KARATE ASSOCIATION e teceu de, um punhado de
professores dispersos, para a presente situação mundial de mais de 10 milhões
de membros em 65 países (dados de 1982), e foi ele que, apesar dos seus quase
70 anos, continuou trabalhando, viajando pelo mundo, ensinando e conferenciando
e demonstrando os princípios aprendidos com seu mestre mais de 50 anos atrás.
Dizer que Masatoshi Nakayama foi uma figura pouco importante
na historio e no desenvolvimento mundial do KARATE é o mesmo que dizer que
Albert Einstein foi uma pessoa pouco inteligente.
A entrevista que se segue, de importância histórica, a mais
completa e compreensível que o Prof. Nakayama já dera a um jornalista
ocidental. Indubitavelmente, legiões de seguidores de Mestre Nakayama poderão
se deliciar ao ler as entrevistas na qual o mestre Nakayama expõe suas idéias
sobre as técnicas do KARATE, dentro claro de certos limites. No entanto, ele
escreveu mais de 20 livros sobre o tema KARATE, e os leitores que querem ter
uma visão sobre questões técnicas poderão se reportar a eles.
Observar este pequeno homem (Nakayama tinha exatos 1,65m)
praticando seu KARATE era observar a incorporação das idéias que ele construiu
com profundidade.
No dojo de Yutaka Uaguchi (sempai de Tanaka Sensei, tri
campeão mundial) em Denver, Colorado, aos 69 anos de idade, Nakayama tirou sua
parte de cima do kimono para mostrar aos faixas pretas quais músculos deveriam
ser usados em várias técnicas. Uma estudante, enfermeira de aproximadamente, 30
anos, comentou: “em minha experiência de enfermeira eu vi um grande número de
físicos de 70 anos, mas a primeira vez que vejo alguém nesta idade com um corpo
de 35 anos”.
Na verdade, Masatoshi Nakayama em suas roupas normais
aparentava uns 50 anos, em seu kimono, passando entre os jovens faixas pretas
em meio aos chutes e socos, aparentava menos.
O mais alto estágio do KARATE-DO, ele disse, é transcender o
corpo e a mente, um estado no qual a mente e o corpo movem-se livremente e
suavemente, independentemente da idade ou da condição física. Ainda que ele
fosse relutante em admitir isto, os seguidores de Nakayama acreditam que ele
tinha alcançado este estado e se movia para além dele. “Ele não era um homem
comum” disse um instrutor.
Para provar, seus seguidores lembram que Nakayama, também um
professor de Esqui graduado, foi completamente esmagado numa avalanche enquanto
esquiva nos Alpes japoneses em fevereiro de 1971. Os médicos o deram por morto
e sua família foi chamada a permanecer junto ao leito aguardando o momento
final. Não haveria possibilidades, disseram os médicos, de um homem naquela
idade sobreviver à catástrofe.
Ao invés de morrer, entretanto, Nakayama levantou-se poucos
dias depois e disse que estava com fome. Bem, O.K., admitiram os médicos, ele
deverá viver, mas ele jamais andará novamente. Quando ele deixou o hospital
quatro meses mais tarde e reassumiu seus treinamentos no Dojo Central da JKA,
os doutores, assim como muitos de seus muitos estudantes, ficaram atônitos sem
acreditar. “Há alguma coisa de especial sobre ele”, um doutor disse. E só posso
atribuir sua recuperação à extraordinária condição física ou talvez a um
milagre.
Mas ao ouvir isto Masatoshi Nakayama disse que não era um
milagre e que não era ninguém especial: “KARATE-DO é alcançado um passo a cada
tempo, e isto a vida inteira. Apenas treinar todos os dias e tentar ser melhor,
e a verdade virá para você.”.
Para um homem com enormes méritos e força, a humildade de
Nakayama era ingênua “quando eu for para o céu”, ele disse com um brilho em
seus olhos, “Eu espero que Mestre Funakoshi não me bata por introduzir o
esporte KARATE”. Então ele riu largamente. “Mas eu não penso que ele esteja
magoado. Ele queria que eu expandisse o KARATE-DO ao redor do mundo e o ESPORTE
KARATE tem certamente feito isto.”.
Masatoshi Nakayama foi à prova viva de um ditado de
Confuncius: “O homem superior é modesto em suas palavras mas se excede em suas
ações”.
O que esta entrevista mostra é a história e filosofia de um
homem que devotou toda sua vida na causa do KARATE-DO. A história dita de suas
próprias palavras, as vitórias e derrotas de um homem, sua luta para
compreender, servir e por fim, liderar outros. Masatoshi Nakayama foi um elo
entre o passado e o KARATE atual, era uma enciclopédia da arte do KARATE-DO
SHOTOKAN, e assim que começará nossa entrevista – no passado onde às raízes da
arte japonesa e o homem tiveram sua origem.
CONVERSAÇÕES COM MESTRE NAKAYAMA
1. HASSEL - Sensei, talvez nós devêssemos começar com suas
primeiras lembranças de sua vida e sua família.
NAKAYAMA - Minha família foi por muitas gerações uma família
de instrutores de lança. Eles eram samurais ligados ao famoso clã Sanada, e
eles continuaram ensinando a lancear até a época de meu pai. Meu avô foi o
último da linhagem a ensinar a lança e meu pai estudou judô. Como um homem
jovem, ele entrou para o exército e eventualmente tornou-se doutor com um grau
de coronel.
Eu nasci em 1913 e porque meu pai estava posicionado em
Taiwan, eu ocupei uma grande parte de minha educação básica numa escola em
Taipei, Taiwan.
2. HASSEL - Quanto seu pai influenciou em sua prática das
artes marciais?
NAKAYAMA - Eu diria que sua influência foi mais de forma
geral do que de forma específica. Ele era o que chamaríamos hoje de
estritamente disciplinador.
Naqueles dias, minha mãe, como outras mães, eram largamente
responsáveis pela educação das crianças, e ela era muito boa em suas obrigações
comigo e com meus irmãos mais novos. Mas algumas vezes nós saiamos da linha e
meu pai ali estava para nos mostrar como sermos homens. Por um instante, em
particular, bate em minha mente um desses dias.
Tanto quanto eu possa me lembrar em tinha 8 anos de idade e
freqüentava o 1° ano da escola na China. Desde que eu era o mais velho, era
minha responsabilidade olhar por meu irmão mais novo enquanto nós íamos para a
escola e de sua volta. Ao longo do caminho para a escola, havia um grande campo
usado para treinamentos militares e nós estávamos proibidos de subir a cerca e
entrar nesta área. Mas, como muitas crianças, eu não pude resistir à tentação
de passar para o outro lado e explorar o campo.
O campo era coberto por um grande número de buracos e
crateras, e isto era muito sedutor para uma criança de 8 anos de idade
explorar. Então sem pedir licença, eu levei meu irmão mais jovem para explorar
o campo um dia. Havia toda espécie de construções e armamentos ao redor, e nós
tínhamos um enorme e maravilhoso tempo para explorar isto tudo. Mas o tempo
escapou de nós, e ficou muito escuro. Não era só isto, eu percebi que estávamos
perdidos.
Nós vagamos ao redor do campo por horas, tentando encontrar
o caminho da saída. Além de cairmos em vários buracos no escuro, o lugar também
estava repleto de raposas e enormes ratos que quase nos mataram de susto.
Finalmente meu pai, que era um homem muito preocupado naquela época, enviou
muitos soldados a nos procurar.
Acabamos voltando para casa ao redor de meia noite, e eu
sabia que tinha sido um grande incômodo. Meu pai me disse que eu tinha
seriamente negligenciado minha grande responsabilidade de olhar por meu irmão.
Isto, acoplado com o fato de ter deliberadamente desobedecido, deixou-me
profundamente triste. Ao invés de me bater e mandar-me para a cama, ele me
disse que ficasse do lado de fora da casa até as três horas da manhã e
meditasse sobre todo incomodo que tinha causado. Isto aconteceu em meio ao
inverno, então eu permaneci lá fora no frio, humilhado e perturbado com a mágoa
e a angústia que tinha causado aos meus parentes.
Esta experiência teve um profundo efeito em mim, para dizer
no mínimo, e eu penso nisto até hoje quando vou fazer qualquer coisa sob
impulso. Isto pode ser colocado numa melhor perspectiva considerando que quando
eu nasci em Tóquio, nós ainda usávamos o tradicional kimono e gueta. Minha
família era puro samurai, e as coisas eram feitas diferentemente. Minha mãe nos
criaria até a idade em que meu pai nos ensinaria como nos tornarmos homens –
homens samurais.
3. HASSEL - O Sr. Estudou artes marciais em sua infância?
NAKAYAMA - Sim, estudei KENDO na escola secundária e no
terceiro grau. Alguns de meus anos de alfabetização foram passados em Taipei,
Taiwan, e nestes dias eu nadava sempre, jogava tênis, comecei a esquiar, e
corri trilha. E era muito atlético. Na escola secundária, eu me concentrei no
esqui e KENDO. Meus treinamentos de KENDO continuaram certos até meu ingresso
na Universidade de Takushoku, e anos mais tarde.
4. HASSEL - O que o Sr. Estudou na Universidade Takushoku?
NAKAYAMA - Bem, será interessante voltar aos fatos que me
levaram para a Universidade em primeiro lugar, e como sai, foi muito afortunado
para mim, porque foi onde eu pela primeira vez vi o KARATE e conheci Mestre
Funakoshi.
Como eu mencionei, minha família tinha sido de instrutores
de lança até os tempos de meu avô Naomichi. Até aquele tempo nos tínhamos
servido ao clã Sanada de Ueda Prefeitura de Shimano. Mas meu avô mudou-se para
Tóquio e tornou-se sargento. Meu pai Naotoshi, seguiu os passos de seu pai e
tornou-se sargento também, e esperava de mim que fosse para a medicina. Então,
depois de me graduar na escola superior de Kanazawa, Ishikawa prefeitura,
preparei-me para entrar na universidade de Hineji, prefeitura de Hyogo.
Enquanto eu estava lá, um incidente ocorreu na Manchúria, e
nós fomos todos recomendados a fazer leituras sobre a cultura da Manchúria e da
Mongólia, e isto estimulou uma vontade que eu sempre tive de visitar este belo
e vasto país. Eu desejava muito ir para a China que, contra a vontade e o
conhecimento de meu pai, secretamente fiz os exames para medicina na
Universidade de Takushoku. (Takushoku literalmente significa cultivação e
colonização, tendo sido fundado em 1900 com o propósito específico de treinar
pessoas para trabalhar no além mar).
No momento em que entrei na universidade, eu estava bem
preparado no KENDO, tendo praticado por mais de 5 anos. Então, quando eu
cheguei à Universidade de Takushoku, eu imediatamente chequei a cédula para ver
onde ficava o clube de KENDO. Mas eu li mal a cédula, e quando eu cheguei ao
dojo, havia um punhado de homens em uniformes brancos praticando alguns
estranhos movimentos como de dança. Um deles, um homem alto de aproximadamente
1,85m, assustou-me com repetidos pulos e chutando o teto com a bola do pé. Ele
veio e me disse que estavam praticando KARATE, e se eu gostasse do que via,
poderia treinar na próxima sessão.
Eu tinha lido alguma coisa sobre KARATE nos jornais, mas
sabia muito pouco sobre isto, então decidi sentar-me e ver um pouco. Dali a
pouco, um homem de idade veio para dentro do dojo e começou a instruir os
alunos. Era extremamente amável e sorria a todos, mas não havia dúvidas que ele
era o chefe instrutor. Naquele dia tive meu vislumbre pelo Mestre Funakoshi e
pelo KARATE. Decidi que realmente faria e que tentaria o KARATE na próxima aula
porque, com todo meu background de KENDO, seria fácil.
Já na próxima aula, duas coisas aconteceram que mudaram
minha vida: Primeiro, eu esqueci completamente o KENDO, e segundo, eu descobri
que as técnicas do KARATE não eram tão fáceis de fazer. Deste dia em diante, eu
nunca mais esqueci o sentimento inerente de buscar a maestria nas técnicas do
KARATE-DO.
5. HASSEL - Há muitas pessoas que começaram naquela época,
ainda em atividade?
NAKAYAMA - Desafortunadamente, ninguém deste período está em
atividade. Muitos deles passaram alguns anos, que me recordo, treinando com
Kunio Endo e Koji Matsumoto de grande habilidade. Mas agora todos já se foram;
e eu estou só.
6. HASSEL - O que eram seus treinos sob os cuidados de
Mestre Funakoshi?
NAKAYAMA - As sessões de treino com Mestre Funakoshi eram
severas e inflexíveis. Durante as sessões na universidade, Funakoshi Sensei
levava-nos a executar técnicas e mais técnicas, centenas de vezes cada. Quando
ele selecionava um KATA para nós praticarmos, nos repetíamos por 50 ou 60
vezes, e isto era sempre seguido por intensa prática de makiwava. Nós
deveríamos socar até nossas frentes de mão sangrarem. Mestre Funakoshi mesmo
apreciava golpear o makiwara, e posso vivamente lembrar dele batendo como que
1000 vezes com seus cotovelos. Os treinamentos eram tão cansativos que dos 60
novatos que começaram em 1932 junto comigo, somente 6 ou 7 de nós chegou ao
final dos 6 meses de treino. O resto desistiu.
7. HASSEL- Naqueles dias, todos usava kimonos brancos como
hoje?
NAKAYAMA- Naquele período , sim, mas não originalmente,
claro. O Gi que usamos hoje, foi desenhado pelo Mestre Funakoshi depois que ele
foi para o Japão. Em Okinawa, os estudantes vestiam uma versão de kimono
tradicional, mas o traje era dividido nas pernas para permitir maior movimento.
Este traje era chamado Hakama, e ainda pode ser visto no Japão de hoje. Mas o
Japão em 1922 estava ainda preso a uma estreita estrutura social na qual
diferentes níveis sociais vestiam diferentes trajes.
No topo da estrutura estavam os samurais, seguido em ordem,
pelos fazendeiros, os artesões e os mercadores. O que o Mestre Funakoshi
primeiro projetou foi um uniforme para a prática do KARATE que pudesse ser
usado por qualquer pessoa, independente de sua classe ou posição social.
Depois de experimentar um pouco e fazer suas conclusões, ele
veio com o uniforme que era a combinação do judô-gi e o tradicional Hakama, e é
este uniforme que usamos até hoje. Também, a cor branca para simbolizar pureza
nas intenções da pessoa que a usa, e servindo para erradicar a distinção entre
as classes.
8. HASSEL - O que o Sr. Diria que é de maior significância
na diferença entre os treinamentos de hoje e seus treinamentos sob a orientação
de Mestre Funakoshi à muitos anos atrás? Quanto mudou as técnicas desde aquela
época?
NAKAYAMA - Os princípios técnicos ensinados na JKA hoje são
os mesmos daqueles do Mestre Funakoshi em seus dias. Os métodos usados para
explicar e desenvolver estes princípios têm mudado naturalmente. Quando Mestre
Funakoshi veio para o Japão e então começou a ensinar minha geração, o único
método usado era o KATA.
O KATA era introduzido imediatamente nos treinamentos, e nós
praticávamos continuamente. Quando nós tínhamos uma idéia básica de como os
movimentos deveria ser executados, nós faríamos frente a frente, executando
ataques e defesas baseados nos movimentos dos KATAS. Muitas coisas eram
baseadas nos movimentos dos KATAS e as aplicações destes movimentos eram
acompanhadas de ataques verdadeiros. Estes treinos eram muito difíceis e
realísticos, e eu me lembro de muitas noites quando eu nem podia dormir porque
meus braços e pulsos estavam cheios de hematomas de centenas de fortes
repetições de um tipo particular de bloqueio de um KATA.
Como já mencionei, nenhum de meus seniores vive hoje, mas
eles sabiam somente KATAS; era a única forma que Mestre Funakoshi ensinou-lhes,
mas em minha geração, as coisas começaram a mudar. O povo de minha geração foi
convidado a estudar artes marciais no início da escola (fase de alfabetização),
e continuaram até o nível de graduação do colegial. KARATE não era ensinado nas
escolas daquele tempo, então todos tinham estudado JUDO ou KENDO. Eu comecei
KENDO na época da escola gramatical, por exemplo, e meus amigos também tinham
praticado por um longo tempo. Mas JUDO e KENDO eram embasados no combate
arremessando o oponente ou golpeando-o com a espada. Então, a idéia de combate
estava profundamente enraizada em nós, e realmente precisávamos do aspecto
combativo da qual o KARATE estava profundamente carente. Mestre Funakoshi
entendeu isto e começou a mudar seus métodos de ensino para melhor atender as
jovens gerações. Nós precisávamos mais que apenas KATA todo o tempo. E ele
percebeu que coisas deveriam ser mudadas se ele quisesse atrair os jovens e ver
sua arte crescer. Então, ele tomou técnicas dos KATAS e começou ensinando
GOHON-KUMITE (5 passos com sparring) baseado em técnicas individuais do KATA.
Nós deveríamos caminhar 5 vezes com o mesmo ataque enquanto
o defensor bloqueava. Então o defensor poderia contra-atacar. Mas nós tínhamos
um alto espírito, e se o defensor não contra atacasse imediatamente, nós
poderíamos atacá-lo novamente, e ele seria forçado a improvisar uma defesa e
tentar contra golpear novamente. Estas ações tornaram-se as bases para o
free-sparring (luta livre). Era natural o crescimento do espírito dos jovens
praticando uns com os outros.
Pouco depois disso, nós começamos KIHON-IPPON-KUMITE, ou 1
passo de combate. Neste método, o atacante poderia anunciar a área do alvo, rosto
ou estômago, e eles executariam com força, com uma técnica decisiva. O defensor
tinha somente uma chance para fazer a correta defesa e contra golpear
eficazmente. Isto muito de acordo com a filosofia das artes marciais que se
resolve no conceito que não há segunda chance. Muitas coisas devem ser feitas
corretamente na primeira vez, ou a pessoa morre. Nós não estávamos tentando
matar uns aos outros, claro, mas nós estávamos tentando executar aquela que,
seria a técnica perfeita com a qual poderíamos parar um oponente numa situação
real de luta. O natural desenvolvimento deste tipo de treinamento era o
JYU-IJPPON-KUMITE (o combate com um único golpe), na qual o defensor sabia qual
a área seria atacada, mas no qual o atacante poderia movimentar-se livremente
de posição e distância. A coisa mais significante sobre isto é que pela
primeira vez o KARATE tinha sido ensinado de forma diferente daquela da
aplicação dos movimentos de defesa pessoal do KATA, e com um sistema completo
de KUMITE (luta livre) num único conjunto, em 5 anos de trabalho.
Quando Mestre Funakoshi publicou o KARATE DO KYOHAN em 1936,
ele incluiu os métodos básicos de sparring no livro, e foi à primeira vez que
se marcou esta nova idéia introduzindo-a para o público em geral.
Também neste período veio a idéia da prática de cada técnica
em particular, como nós a conhecemos hoje (KIHON). Mestre Funakoshi entendeu
que nós deveríamos praticar cada técnica independentemente para desenvolver o
sentimento do IKKEN HITATSU (parar o oponente com um único golpe) no combate.
Assim começamos a praticar cada técnica isoladamente, caminhando para frente e
para trás no tablado de treino, repetindo as técnicas muitas vezes. Este hoje é
o método fundamental de treinamento. Durante meus primeiros anos no colégio, os
treinamentos de KARATE eram divididos em três aspectos como hoje – KIHON, KATA
e KUMITE.
Eu comecei a treinar em 1932, e o KUMITE básico foi
introduzido em 1933. Em 1934, JYU-IPPON-KUMITE era introduzido, e o JYU-KUMITE
iniciou em 1935.
Em novembro de 1936, nós formamos o All Japan Collegiate
Karatê Union e demos uma demonstração no Centro Cívico de Tóquio. Foi a
primeira vez na história. Nós demonstramos ao público os novos métodos de
treinamento de KUMITE, e mostramos como os estudantes progrediram no 5-passos
para o 1-passo, então para o semilivre e finalmente para o combate livre.
Neste tempo, nós não tínhamos um dojo. Mestre Funakoshi
ensinava nas escolas, e para grupos privados de companhias e no Tóquio Bar
Association. Um grupo nosso, entretanto, queria mais treinamentos que só os da
escola, então íamos juntos à noite para a casa de Mestre Funakoshi para mais
treinamentos.
Na Universidade, nós treinávamos por 2 horas no período do
almoço, e íamos para a casa do Mestre para mais 3 horas de treinamento à noite.
Em sua casa havia uma varanda de madeira estreita. Enquanto nós treinávamos,
Mestre Funakoshi e seu filho, Yoshitaka, permaneciam sentados no chão no fim da
área e nos ensinavam. Era uma velha forma de se ensinar e era, acredito, a
maneira com a qual Sensei poderia ficar mais profundamente concentrado nos
movimentos dos estudantes. De tempos em tempos, Mestre Funakoshi levantava-se e
demonstrava as técnicas ou explicava um ponto específico, e então se sentava
novamente. Eu me lembro dele sentado ali com seu corpo reto e firme, e poderia
permanecer ali naquela posição por 3 horas, movendo-se somente quando queira
nos mostrar algum detalhe.
O deck da casa do Mestre Funakoshi era tão pequeno que só
alguns de nós poderiam praticar ao mesmo tempo, e desde que nós treinávamos até
ficar escuro, era freqüente nos chocarmos.
Naturalmente, naquela época, Mestre Funakoshi não era um
homem de posses, então todos os estudantes se juntavam e colaboravam com
dinheiro e doávamos ao Mestre para que pudesse ter uma condição melhor, e
ajudá-lo em sua grande tarefa.
9. HASSEL - É bem sabido que Mestre Funakoshi escreveu o
primeiro livro de KARATE, KARATE DO KYOHAN, e que ele mudou os caracteres de
KARATE do antigo significado de Mãos Chinesas para Mãos Vazias. Como estas
ações foram recebidas pelo grupo ligado ao KARATE e ao público em geral?
NAKAYAMA - Bem, os caracteres do KARATE tinham começado a
ficarem bem conhecidos no início de 1930, mas ainda eram lidos como “Mãos
Chinesas”. Em 1935, Mestre Funakoshi escreveu KARATE DO KYOHAN e propôs que os
caracteres deveriam ser mudados para “Mãos Vazias” para melhor refletir a
natureza do KARATE como uma arte Japonesa. Mais importante ainda, ele também
propôs que KARATE-JUTSU, a técnica de KARATE, ser mudado para KARATE-DO, KARATE
COMO UM CAMINHO DE VIDA. Isto causou um tremendo tumulto no meio dos mais
velhos, os tradicionais mestres de KARATE de Okinawa daquela época, e eles se
posicionaram fortemente a ele nos jornais. Eles queiram saber porque ele queria
remover o KARATE de Okinawa e das raízes Chinesas. Ele respondeu a eles de
maneira interessante. Ele disse, com efeito, que desde que o KARATE tinha se
expandido para a ilha japonesa e sido aceito pela inteligência no Japão, ele
tinha deixado de ser uma arte marcial local de Okinawa. Ele disse que tinha
crescido para proporções universais sua aceitação, e deveria ser elevada a um
status igual ao do KENDO, a mais antiga arte marcial japonesa, e JUDO, que era
muito popular. O caractere que ele usou para KARA do budismo tradicional e
também pronunciado “KU”, que significa “vácuo”, ou “vazio” e significa o
universo.
Por 2 anos, cartas e artigos foram trocados entre Mestre
Funakoshi e os jornais de Okinawa, e assim foi como ele me mostraria novos
artigos todos os dias. Ele pacientemente respondia todas elas para eles, e
finalmente os antigos mestres abriram seus olhos e se orgulharam de terem
contribuído com a maior arte marcial do Japão.
10. HASSEL - Foi nesta época que o Mestre Funakoshi abriu
seu primeiro dojo para o público. Como isso veio a ser?
NAKAYAMA - Seu primeiro dojo foi construído no ano seguinte
à minha graduação na Universidade de Takushoku, e foi construída através dos
esforços de seus estudantes. O mais antigo deles era Kichinosuke Saigo, um
famoso político no Japão, Mr. Saigo organizou um comitê para solicitar
donativos para a construção do dojo em 1938. Isto marcou a construção do
primeiro dojo no Japão.
11. HASSEL - Foi um sucesso e bem recebido pelo povo japonês
o dojo?
NAKAYAMA - Minha impressão é que o desenvolvimento do KARATE
SHOTOKAN seguiu um especial e bem afortunado caminho. Todos os primeiros
esforços do Mestre Funakoshi foram dirigidos para ensinar a inteligência no
Japão – doutores, advogados, escolares e artistas. Estas pessoas acataram a
arte muito seriamente e com alto grau de consideração. Eles estudaram muito e
tornaram-se muito bons, e formaram um grande grupo de elite a partir dos
seniores para representar o KARATE-DO de Mestre Funakoshi. Então, quando o dojo
foi aberto ao público, este tinha a impressão já formada de que o KARATE era
uma arte de virtuosismo e importante para as pessoas.
Estes seniores não ensinavam ao público em geral, e eu penso
que isto serviu para mantê-los em grupo e aparte dos olhos do público como um
grupo especial e importante para o KARATE.
Após mantê-los separados do público em geral, Mestre
Funakoshi foi capaz de prepará-los com uma forte base – um importante grupo de
pessoas aos olhos do povo, rigorosamente embasados nas técnicas e filosofias do
KARATE-DO. Os estudantes em geral que vinham para treinar desta maneira tinham
um alto ideal para vislumbrar, e nós sempre os encorajávamos a imitar os alunos
mais velhos do Mestre. Isto realmente ajudou a configurar o KARATE SHOTOKAN e
parte dos outros estilos para o público em geral, e não há dúvidas que foi o
fator de maior contribuição no desenvolvimento de nossa grande organização
internacional.
12. HASSEL - Já que estamos neste assunto, aproximadamente
quantos membros há na JKA mundial hoje? (1982)
NAKAYAMA- Difícil para eu dizer, porque encabeço o lado
técnico da organização e eu não sou um administrador. E devo confessar que eu
não deveria meter-me sem saber o número exato, mas eu posso dizer que temos
provavelmente 10 milhões de registros desde que nós começamos a fazer os
registros. Naturalmente, difícil dizer quantos destes estão ativamente
treinando neste exato momento. O número pode varias de 2 a 6 milhões, e há
também aqueles que estão nas escolas e universidades, e ainda os muitos que
apesar de estarem começando ainda não têm seu registro na JKA.
Entretanto o que eu poso lhe dizer com certeza é que a
organização está ativa e bem de saúde em todo o mundo, e temos milhares de
membros.
13. HASSEL - Sensei, o Sr. Obviamente é o centro do mais
importante período na história do desenvolvimento do KARATE no Japão. Como o
sistema completo que nós usamos hoje é comparado ao sistema então em costume, e
quanto distantes nos movemos dos métodos do professor Funakoshi?
NAKAYAMA- Durante os anos que estava no colégio, Mestre
Funakoshi desenvolveu e sistematizou o estilo de KARATE SHOTOKAN dentro de
áreas básicas no treinamento – KIHON, que é psiquicamente o treino dos
fundamentos, KATA, que é o exercício formal; e KUMITE, que é o combate. Ele
dizia que estas três áreas são uma só e que não podem ser separadas. Mas elas
são as bases teóricas para o KARATE como arte, e elas deitam as fundações para
pesquisarmos sistematicamente nossas técnicas e tentar fazê-las forte. Hoje, a
JKA segue exatamente os métodos do Mestre Funakoshi. Nós fazemos pesquisas
constantemente para tentar encontrar caminhos para fazer o corpo forte e as
técnicas fortes, mas nós seguimos os métodos do Mestre Funakoshi exatos.
14. HASSEL - Têm estas pesquisas levadas a grandes mudanças
técnicas?
NAKAYAMA - Nós não mudamos um simples princípio básico em
todos estes anos. O que nós temos encontrado através de nossas pesquisas é que,
no todo, os princípios básicos de Mestre Funakoshi são corretos, fortes, e
válidos à luz das evidências científicas. Quando eu digo que deve haver
mudanças, quero dizer que com o advento dos torneios, nós temos que encontrar a
maneira de mudar para que as técnicas possam ser usadas em competição.
Mas bases são bases, e nós não devemos mudá-las. Muitos
indivíduos têm iniciado mudanças, mas suas atitudes são erradas e inaceitáveis.
Muitos, por exemplo, têm criado uma noção errada que competição é tudo, e só
treinam com o propósito de vencer a competição. Isto está absolutamente errado.
O KARATE de Mestre Funakoshi se baseia no desenvolvimento de fortes bases
técnicas primeiro, através do KIHON e KATA, e usa o KUMITE para testar as
técnicas uns com os outros. Nenhuma outra idéia é tida como parte deste
princípio.
Veja, antes de Mestre Funakoshi morrer, eu comecei a
pesquisar a idéia de desenvolver torneios, ou – KARATE esporte -. Mas quando eu
perguntei ao Mestre Funakoshi sua opinião, ele se recusou a comentar. Ele
estava preocupado, veja você, que se os conceitos de torneio se tornassem muito
populares, então os estudantes poderiam abandonar os princípios básicos e
praticar somente para as competições. Ele sabia que nós teríamos as competições
e que seriam importantes para a internacionalização do KARATE, mas ele queria
isto claramente entendido, que a coisa mais importante seria sempre o
treinamento básico. Por isso que enquanto tenho sido o Instrutor da Japan
Karatê Association, o treinamento tem sido sempre centrado ao redor dos
princípios básicos do Mestre Funakoshi, KIHON, KATA e KUMTIE. Fortes bases
primeiro, torneios depois.
15. HASSEL - Sensei, antes de mudarmos para as questões
filosóficas, poderia nos contar sobre suas experiências na China, e como elas
influenciaram em seus treinamentos de KARATE?
NAKAYAMA - Sim. Eu gastei grande parte de meu tempo na
China, e minhas experiências lá influenciaram fortemente meus pensamentos sobre
as artes marciais.
Na Universidade de Takushoku, eu era especialista em
história Chinesa e Mandarim, e planejava uma viagem para a China em meu segundo
ano de universidade.
A viagem tomou uma maior significância para mim por causa de
um incidente que ocorreu na primavera de meu primeiro ano. Eu tinha treinado
KARATE por vários meses naquela época, e alguns amigos e eu fomos a um PIC-NIC
no campo. Enquanto nós estávamos descansando, alguns rufiões começaram a nos
incomodar, e eu fui muito rápido para mostrar a eles a força dos chutes e socos
do KARATE. Eu estava muito bem capacitado a defender a mim e a meus amigos, mas
quando Mestre Funakoshi ouviu sobre isto, ele ficou furioso. Ele me reprimiu
severamente. Ele disse que eu tinha boas qualidades físicas, mas que eu era
emocionalmente e espiritualmente imaturo. Ele disse que minhas ações foram de
um covarde e imaturo, e que a verdadeira coragem recai sobre a auto restrição e
a auto disciplina. Isto requer muito mais coragem, ele disse, andar em frente
quando defrontado com o infortúnio do que sair dando socos e chutes para se
exibir a todos.
Suas palavras tiveram um profundo efeito em mim, e eu me
determinei a fazer minha viagem para a China para buscar uma maturidade
espiritual. Então de junho a setembro de meu segundo ano, eu viajei a pé
através da Manchúria, ao longo da Grande Montanha Khingan, para dentro dos
descobertos da Mongólia. Eu praticava KARATE todos os dias, porém eu estava
realmente só, com medo, e usualmente com fome. Mas naquela vasta solidão dos
descampados da Mongólia, eu penso que comecei a entender a essência da
autoconfidência e da realiança. Isto me ajudou a ver mais claramente minha
própria natureza, e eu era capaz, além do mais, de superar minha solidão e meu
medo. Em 1937, eu fui para Peking como estudante bolsista para continuar meus
estudos de língua, história e sociedade Chinesa. E você não o acreditaria! A
primeira coisa que eu vi na China foi o Boxe Chinês! De primeira, eu não fiquei
muito impressionado com as artes Chinesas como método de luta. Eles enfatizavam
movimentos circulares, e eles não tinham KIME (foco) como KARATE japonês, então
eu pensei que eles eram fracos.
Com o passar do tempo, penso, eu aprendi que as artes
Chinesas tinham grande valor. A história da China longa e profunda, e assim a
história de suas artes marciais. Uma vez vi um instrutor receber um quebramento
de braço do que parecia ser um golpe suave, um bloqueio circular, e eu decidi
que deveria ver com mais profundidade as artes marciais Chinesas, e comece a
estudá-las, e continuei por aproximadamente 10 anos.
Treinei muito com diferentes instrutores, e desde que eu
também ensinava KARATE, uma arte que eles nunca tinham visto, muitos
instrutores vieram para conhecer mais profundamente a arte. De fato quando os
jornais japoneses enviaram uma multidão de filmadores para fazer uma história
sobre as artes marciais Chinesas, sifu (professores) de todos os lugares da
China vieram para demonstrar para as câmaras, e me perguntaram se poderia atuar
como interprete. Como uma cortesia para mim, eles também insistiram que
demonstrasse o KARATE, e aceitei. E minha demonstração, enfatizou KIME e KATA.
Naquela época, Japão e China estavam próximas da guerra, e
passou a ser desconcertante ver jornais Japoneses e Chineses discutindo sobre
qual país possuía a melhor arte marcial. Os Japoneses diziam que o Boxing
Chinês parecia bonito, mas carecia de velocidade e KIME, e não era obviamente
bom para lutar. Os Chineses retribuíam dizendo que enquanto o KARATE se
mostrava veloz e forte e extremamente poderoso, ele era ainda uma nova arte
marcial e por isto carecia de refinamento e profundidade.
Desde que eu estava ensinando KARATE a um grande número de
sinceros estudantes Chineses e eles ensinando Kung-fu e Tai-chi, nós achávamos
tudo aquilo muito divertido.
Meus sentimentos eram que enquanto as técnicas de KARATE
confiam na conservação de energia para ser liberada de repente no fim de uma
técnica como uma explosão, as artes Chinesas gastam uma grande parte da energia
na preparação dos movimentos e libertam sua força como um lento deslizar de uma
espada. Mas meu treinamento na China impressionou-me profundamente na idéia que
duas culturas, tão diferentes no aspecto externo, poderiam ambas
independentemente desenvolver artes marciais efetivas baseadas em suas próprias
culturas e enraizadas profundamente nas mesmas bases filosóficas, a filosofia
do homem esta em busca da perfeição do caráter através da expressão física, o
que, para mim, é a coisa mais importante.
E por favor não me interprete mal: Eu não estou dizendo que
as artes Chinesas são ruins. Eu treinei por longo tempo com um velho sifu de 80
anos de nome Pai (um famoso boxer de Peking) que era absolutamente
extraordinário com as pernas. Ele parecia ser capaz de enrolar suas pernas ao
redor de um ataque de braço, e seus movimentos de defesa eram maravilhosos.
Como resultado dos estudos com ele, eu desenvolvi dois novos chutes os quais
foram incorporados nas técnicas de KARATE por Mestre Funakoshi quando eu
retornei para o Japão. Um foi o chute empurrado ou bloqueio com a sola do pé ou
a parte inferior da perna, e o outro o chute circular reverso.
16. HASSEL - Quanto tempo o Sr. Permaneceu na China?
NAKAYAMA - Até 1946. Eu fiquei 5 anos na Universidade de
Peking, e mais algum tempo trabalhando no governo Chinês.
17. HASSEL - Como eram as condições do Japão em 1946?
NAKAYAMA - Eram terríveis! Eu tinha ingenuamente pensado que
poderia trabalhar ensinando Chinês, mas todo o país estava imerso na
reconstrução do pós-guerra, e havia muito poucas academias disponíveis para a
prática. Eu trabalhei como vendedor de secos e molhados por um tempo para minha
sobrevivência.
Uma das primeiras coisas que fiz quando retornei para Tóquio
foi começar a procurar por meus antigos camaradas e os seniores de KARATE. Mas
muitos deles tinham desaparecido na guerra! Os que restaram não estavam mais
ativos, principalmente. Então imediatamente procurei reuni-los todos juntos e
iniciar os treinamentos novamente. Eu fui naturalmente afortunado porque, eu
tinha continuado meus treinamentos na China.
18. HASSEL - Não havia uma lei em oposição à prática das
artes marciais no Japão depois da guerra?
NAKAYAMA - Sim, mas o edital do GHQ (General Headquartesof
Allied Powers) dizia em suas linhas que inclui o KARATE como parte do JUDO. Eu
tinha um amigo que conhecia o chefe do Educations Bureau no Ministério de
Educação, e ele nos ajudou a convencer as forças aliadas que o KARATE não era
parte do JUDO em nada. Usando da premissa que KARATE era atualmente uma forma
de boxe Chinês – como esporte – nós recebemos permissão para a prática. O GHQ
pensava que o KARATE era apenas um inofensivo passatempo! Então enquanto outras
artes marciais tiveram que esperar até o banimento da lei em 1948, nós pudemos
treinar e progredir.
19. HASSEL - Quando a JKA foi oficialmente organizada?
NAKAYAMA - Nós nos organizamos oficialmente em maio de 1949,
e fomos oficialmente incorporados como corpo educacional do Ministério da
Educação em 1955.
20. HASSEL - Sensei, nos Estados Unidos, grande parte do
KARATE dos anos de 1950 era ensinado por instrutores do comando geral. Que
significância o Sr. Pensa que teve este trabalho na introdução do KARATE para a
América?
NAKAYAMA - A história do KARATE americano realmente está
ligado à decisão do Comando Aéreo Americano (SAC) de ensinar artes marciais
para seu pessoal. Em 1951, SAC enviou 23 instrutores (para treinamentos
físicos) para a Kodokan em Tóquio para estudar as várias artes marciais, sob os
cuidados de instrutores japoneses. Este programa continuou por 15 anos e se
colocou a um grande número de Americanos os corretos princípios do KARATE,
JUDO, AYKIDO e outras artes marciais. Certamente os homens que participaram
destes programas tiveram um significante impacto na transferência do KARATE
para a América.
21. HASSEL - Estes estudos tiveram algum impacto no
desenvolvimento do Programa de Treinamento de Instrutores da JKA?
NAKAYAMA - Sim, diretamente. Quando Mestre Funakoshi
primeiro trouxe o KARATE para o Japão, ele era o único qualificado para
ensinar. Mais tarde, quando Mestre Kenwa Mabuni trouxe o KARATE SHITO-RYU para
Osaka, a arte começou a crescer rapidamente e havia muitos, muitos estudantes.
Sua vasta popularidade levou a uma infortunada situação na qual muitos
indivíduos que tinham somente 6 meses de treinamento com Mestre Funakoshi ou
Mestre Mabuni ou qualquer outro, iniciaram seus próprios estilos. Por esta
razão nós organizamos a JKA e formamos uma corporação como um corpo educacional
sob os cuidados do Ministério da Educação em 1955, havia algo em torno de 200
assim chamados “estilos” de KARATE. E o público não tinha como saber quem
estava ou não qualificado para ensinar e quem não estava.
Era, portanto nosso dever estabelecer modelos standards para
a instrução e registrar estes modelos junto ao Ministério da Educação. Então,
sob a coordenação de Mestre Funakoshi, comecei a formular o Programa de
Treinamento de Instrutores. Minha opinião era que o ranking não deveria ser o
único critério para apontar instrutores. Era mais importante ensiná-los como
ensinar os outros. Eles deveriam ter um amplo conhecimento de outras áreas como
física anatomia, psicologia, gerenciamento, e assim por diante. Mas isto era
uma tarefa monumental, e precisei pedir ajuda e conselho aos estudantes mais
antigos. Então, junto comigo significantes contribuições foram feitas no
programa por Motokuni Sugiura, Teruyuki Okazaki, Hidetaka Nishiyama, e outros.
22. HASSEL - Sensei muitos instrutores do Ocidente parecem
ter se perdido na explicação da filosofia básica do KARATE-DO e das artes
marciais em geral para seus alunos. Eu gostaria de fazer uma série de questões
filosóficas e saber se o senhor poderia ajudar-nos a entendê-las melhor.
NAKAYAMA - Eu tentarei.
23. HASSEL - De acordo com a maioria da literatura existente
no Ocidente, parece que o KARATE-DO possui uma grande parte das filosofias
Budistas e do Zen, mas muito pouco com Shinto, que é a maior religião do Japão.
Esta impressão está correta, e se não, porque?
NAKAYAMA - Não, esta impressão não está correta. As Artes
Marciais no Japão independente do Budismo ou Shinto tem uma longa história, e a
filosofia está profundamente enraizada em todos os aspectos da vida japonesa.
KARATE um caminho marcial, como KENDO e JUDO, e todos estes caminhos marciais
têm suas raízes no início da cultura japonesa. Nas primeiras guerras, o
instinto para a vida naturalmente trazia consigo o conceito de matar ou morrer.
Isto é, o guerreiro tinha que matar o inimigo ou ser morto por ele. Isto era
muito simples e natural. A partir daí, os guerreiros japoneses desenvolveram
uma filosofia que se chama HEIJO-SHIN KORO MICHI, e esta é a base fundamental
de todas as artes marciais. Isto quer dizer que o guerreiro deveria se esforçar
em ser o mesmo na aparência não obstante o que ele estivesse fazendo ou o que
estivesse vestindo. Quer ele esteja simplesmente indo para o seu dia a adia ou
indo para a guerra encarando a morte, ele deve ser o mesmo e agir igual –
confiante, calmo e preparado para agir, e completamente alerta internamente.
Naqueles primeiros dias, as filosofias do Budismo, Xintoísmo
e Confucionismo estavam se desenvolvendo no Japão, e os artistas marciais
estudaram estas filosofias para adquirir um aprofundamento em como entender,
com efeito, o HEIJO-SHIN KORO MICHI – a calma e o estado de prontidão, a mente
presente. Muitos deles estudaram zen e outros estudaram Xintoísmo, mas eles
todos estavam estudando com a mesma perspectiva. A escolha de estudar uma
religião ou filosofia em detrimento a outra foi simplesmente que – era uma
escolha pessoal. A espinha dorsal destes estudos já estava lá HEIJO-SHIN KORO
MICHI. Eu sei que muitas coisas são explicadas no Ocidente em termos de uma
religião ou filosofia ou qualquer outra forma, mas se você olhar profundamente
para a cultura japonesa, você encontrará, que HEIJO-SHIN KORO MICHI, a
filosofia do guerreiro, está em todas as coisas é de fato um denominador comum
dentro da cultura. NOH e KABUKI, por exemplo, são baseados fundamentalmente nas
filosofias do BUDO. Elas requerem resistência, clareza, mente presente, e não
há possibilidades para um erro em sua execução. Isto é o mesmo da filosofia do
BUDO: Há somente uma chance para se executar a técnica correta. Erros não podem
ser corrigidos. Se você faz algo errado, você morre. Isto é especialmente
verdadeiro no KABUKI.
Outro fator que poderia fazer parecer que há mais influência
no KARATE-DO da filosofia Zen que do Shinto, é que o Zen Budismo tem
específicas formas físicas e ações que devem ser usadas na meditação, mas
Shinto não tem muitas formas externas, formas Universais. O Shinto é baseado na
família e na veneração dos ancestrais, e a forma dos rituais no Shinto não
segue um formato específico. Então, segue-se logicamente que se alguém quer
explicar uma forma particular, este irá a uma religião ou filosofia mais
próxima, como Zen Budismo, por exemplo, que possui formas discerníveis prontas.
Como pode alguém explicar um sistema formal em termos de outro sistema se este
não possui forma ou formato? Assim, parece natural que se tenha ligado as
explicações das filosofias das artes marciais ao redor do Zen Budismo mais que
do Shinto. Mas se os alunos estudarem com muito carinho e especialmente os
princípios do NOH KABUKI e SHI-NO-YU (cerimônia do chá), eles virão a entender
que HEIJO-SHIN KORO MICHI, a filosofia do caminho marcial, é que o Zen Budismo
não é a base da filosofia marcial.
24. HASSEL - Os ocidentais são capazes de entender e sentir
o YAMATO DAMACHI (o espírito de luta do Japão) descrito como de significante
valor no caminho do KARATE-DO? Em outras palavras, é necessário para os
ocidentais entender o YAMATO DAMACHI para entender o KARATE-DO?
NAKAYAMA - Yamato é um velho nome que nós usamos para o
Japão antes de ser chamado NIPPON. YAMATO DAMACHI significa coração Japonês
(NIPPON NO KOKORO) ou espírito Japonês, e cada país tem seu próprio coração,
seu próprio e particular espírito. Poderemos falar, portanto sobre América no
DAMACHI ou América no KOKORO. O particular espírito ou coração do Japão está
centrado ao redor do samurai e sua devoção para com seu senhor, ou daimyo. No
topo da estrutura estão o Imperador, daí vem o Shogun, o daimyo e o samurai.
Este é um sistema linear no qual o samurai dá tudo de si para o seu senhor, que
por sua vez serve ao Shogun, que por sua vez serve ao Imperador. O espírito
deste sistema de auto-sacrifício e de abnegação da parte do samurai, primeiro
para o bem de seu daimyo, e por último para o bem de seu Imperador e seu país.
O espírito da América pode ser um pouco diferente, mas pode
se manifestar apropriadamente e de igual forma em tempos de crise. Durante a
guerra, por exemplo, o povo americano praticou o auto sacrifício e a abnegação
para o bem de seu país. E eles tiveram um intenso espírito de unidade e juntos
repeliram o inimigo.
Cada país tem sua própria versão de seu espírito e as
pessoas em seus países morreriam pelo bem geral. Isto é uma forma de lealdade e
amor por seu país.
Entretanto, cada sociedade é diferente, e cada uma tem sua
própria versão de e lealdade e orgulho. Algo de sacrifício para seu senhor,
para seu presidente, para o primeiro ministro, e assim por diante. Nestes
termos que YAMATO DAMACHI refere-se especificamente ao espírito do Japão, não é
necessário para não japoneses entender e sentir isto para compreender e sentir
a essência do BUDO. BUDO NO KOKORO, o espírito do BUDO, essencialmente o mesmo
que YAMATO DAMACHI, mas este coração e espírito não estão limitados somente ao
espírito Japonês. O que quer dizer, este é um espírito universal que será
interpretado e reforçado pelo povo em várias culturas de acordo com sua própria
história cultural e necessidade. Assim, se uma pessoa estuda os princípios do
BUDO – os profundos princípios filosóficos – ele irá adquirir o espírito do
BUDO de acordo com o espírito de seu próprio país.
Em outras palavras, eu não vejo razão em falar sobre BUDO
para YAMATO DAMACHI Especificamente. Uma pessoa que está treinando no espírito
BUDO de auto-sacrifício e abnegação irá adquirir grande conhecimento e
benefícios, centrando-se ao redor de sua própria cultura e seu próprio país.
O desenvolvimento do coração ou espírito é um crescimento
natural no treinamento do BUDO.
25. HASSEL - Como fazer a estratégia de luta de SEN NO SEN e
GO NO SEN conforme o relato do famoso princípio do Mestre Funakoshi KARATE NI
SENTI NASHI não há primeiro ataque no KARATE)?
NAKAYAMA - Em meus livros, BEST KARATE, volumes 3 e 4,
apresentei as técnicas de Mr. Iida como um bom exemplo de GO-NO-SEN, e as
técnicas de Mr. Oishi como o melhor exemplo de SEN-NO-SEN. E o que estes termos
exatamente querem dizer – técnicas de combate KARATE NI SENTI NASHI, por outro
lado, nada tem a ver com execução de técnicas. Antes de uma declaração de ação
para seu espírito ou uma forma de agir, uma advertência para controlar-se e não
lutar.
KARATE NI SENTI NASHI quer dizer literalmente que não há o
primeiro ataque no KARATE. Mas isto não quer dizer simplesmente que o karateka
não fará o movimento inicial para iniciar o combate. Mestre Funakoshi
repetidamente nos dizia que também era estritamente proibido o uso
desnecessário das técnicas de KARATE. Este espírito está incorporado nos KATAS,
que também quer dizer que o karateka não deve nunca agir de maneira que possa
criar uma atmosfera de confusão, e evitar lugares onde o perigo possa existir.
Se um estudante freqüenta um bar onde brigas ocorrem regularmente e ele é
subitamente solicitado a usar suas técnicas de defesa-pessoal, então ele não
entendeu o significado de KARATE NI SENTI NASCHI. De verdade, ELE iniciou a
briga porque ele sabia que a confusão era comum, e poderia ter evitado o
conflito totalmente se ele simplesmente não fosse lá.
KARATE NI SENTI NACHI é um desejo para harmonizar as
pessoas, No KATA KANKU DAI, este desejo de harmonia está simbolizado em seu
primeiro movimento, como não há em nenhum outro KATA e que não demonstra
diretamente nem ataquem nem defesa. As mãos estão erguidas e unidas acima da
cabeça, às palmas para fora, e o karateka olha para o céu através do buraco
formado pelos seus dedos e o polegar. Este movimento expressa identificação com
a natureza, tranqüilidade de mente e corpo, e desejo de harmonia. O karateka
que entende isto terá um coração modesto, uma atitude gentil, e um desejo de
harmonia.
No lado técnico, GO-NO-SEN significa que o ataque está
vindo, você pode ver isto, e você tentará o contra ataque. SEN-NO-SEN quer
dizer que você não dará ao oponente uma chance; você o envolverá de contínuos
ataques. Mas estes termos referem-se aos estados psicológicos inerentes em
situação de luta. Por exemplo, quando um gato se esconde ou se arma para matar
um rato e o faz, o gato está, com efeito, praticando sen-no-sen. Ele não dá
chances ao rato para nada. Mas sen-no-sen não se refere especificamente a uma
técnica. Isto significa de fato que o gato não dá chances ao rato de fazer
nada. GO-NO-SEN não teria significado algum para o gato a menos que ele esteja
sendo atacado por um cachorro de 100 pounds. Eu usei esta analogia para mostrar
que nenhuma estratégia é melhor que a outra. A estratégia empregada depende da
situação e da aplicação psicológica individual. Se uma pessoa é
excepcionalmente habilidosa em SEN-NO-SEN, e seu oponente está excepcionalmente
preparado em GO-NO-SEN, impossível dizer quem vai vencer. As estratégias são de
igual importância e eficiência, dependendo do indivíduo e da circunstância.
Uma outra coisa importante a dizer no KARATE-DO, em adição a
“Não há primeiro ataque no KARATE”, “Não há kamae (postura) no KARATE”. Este
último dito se aplica diretamente para a atitude necessária nos treinamentos ou
lutas atuais. O que isto quer dizer que o estudante não deve retesar o corpo e
torna-lo rígido; deve-se estar sempre relaxada e alerta. No Japão, nós dizemos
que devemos ser flexíveis como o bambu, que se curva e bate para trás quando o
vento bate; aquele que é duro quebra-se com o vento como uma árvore oca e
rígida.
Por outro lado, relaxamento não quer dizer falta de atenção.
Muitas vezes eu digo aos estudantes que há postura e não há postura. O que eu
quero dizer é que há uma postura mental, mas não há postura física. No mais
alto grau de desenvolvimento, penso, o karateka deverá ter uma não postura para
tudo – não postura para a mente, e não postura para o corpo.
Isto é muito difícil de entender, mas essencial sua
aquisição de maneira ordenada para a maestria do KARATE-DO. Estes conceitos
foram sumarizados no 17° século pelo monge zen, Takuan Munenori. O que Takuan
disse para Yagyu, essencialmente, foi que se você põe sua mente nos movimentos
de seu adversário, sua mente ficará presa nos movimento de seu oponente. Da
mesma forma, se a mente está fixa na espada de seu adversário, ou em sua
própria espada, ou em como cortar seu adversário, ou preocupado se for cortado,
se ficar totalmente absorvido em qualquer coisa que prenda a atenção, então a
derrota será inevitável. A solução de Takuan para o problema foi que a mente
não ficasse em lugar algum – que fique espalhada através de todo o corpo, sem
se concentrar em parte alguma. Por aí, ele disse, a mente estará à disposição
em qualquer parte em que a situação necessite de imediata atenção. Se os braços
precisarem se mover, a mente se moverá também: se as pernas necessitarem se
mover, a mente mover-se-á também.
O que ele está dizendo, com efeito, que se a mente está
livre (ou em lugar algum), ela estará em todos os lugares.
Esta filosofia vem diretamente de encontro aos objetivos do
zen de não ter apego a nada. O “KARA” de KARATE vem do Mahayana Budismo, e
também pronunciado KU, que, traduzido para o português, com o significado de
vazio (vácuo) ou nada. Este significado original era “estar carente” ou “estar
necessitando” (ou também “estar abandonando” ou “se esvaziando”), para chamar o
indivíduo a escapar das regras e diferenças entre bom e mau, realidade e
ilusão. Isto, de acordo com o Mahayana Budismo, fortalece a ética individual no
que diz respeito a se uma pessoa não está presa a nada, ela naturalmente
escolherá o bem sobre o mal.
Eu sei que isto é difícil, mas a essência disto é para
deixar a mente ir, e agir naturalmente. Quando uma pessoa se senta pela
primeira vez na direção de um carro, por exemplo, uma grande atenção deve ser
data aos detalhes: “Este é o acelerador, este o breque. Isto o faz andar, isto
o faz parar”, e assim por diante. Depois de um tempo, entretanto, nós não
precisamos nos preocupar com estas coisas a nível consciente. Nós simplesmente
entramos no carro e vamos, e quando queremos nós o paramos, nós naturalmente
pomos o pé no pedal do breque.
Este é o mesmo processo que usamos no KARATE-DO. Quando nós
começamos os treinamentos, nós respondemos naturalmente, e voamos no
adversário. Como nós estudamos postura e técnica, nós criamos estratégias e
movimentos, e aprendemos planos para nos defendermos e contra-atacarmos. Mas
isto nos tira fora da espontaneidade, e nossas mentes se fixam em posturas
específicas, técnicas e estratégias.
Depois de muitos anos de treinamento, nós retornamos para
nosso estado natural – transcendendo técnicas e posturas e estratégias, - e nós
novamente respondemos sem pensar. Naturalmente, depois de muitas anos de
treinamento nós seremos capazes de responder muito mais eficazmente e
eficientemente.
O tempo requerido para alcançar uma mente espontânea a qual
por sua vez está em nenhum lugar e em todos os lugares uma longevidade, não
importa quanto você viva.
26. HASSEL- Como, então o GO-NO-SEM do KARATE se diferencia
do conceito bujutsu de SATSUI E KANJIRU?
NAKAYAMA- SATSUI O KANJIRU literalmente quer dizer “estar num
estado de neutralização.”, e isto se dirige para uma situação na qual um
samurai se esconde, esperando por um inimigo passar. Mas isto não simplesmente
com o significado de esperando o inimigo aparecer, isto é mais uma questão de
sensibilidade de quando o inimigo está por perto, e matá-lo antes que a luta
possa ocorrer. Isto implica que aquele que está escondido não pode ver o
inimigo, mas pode perceber ou sentir quando o inimigo está perto e matá-lo
antes da luta começar. Se um samurai que está passando está praticando
GO-NO-SEM, ele deve também sentir ou perceber quando o ataque está vindo e
defender-se.
27. HASSEL- O famoso artista marcial, Yamada Jirokichi, um
Mestre de KENDO, disse que as disciplinas modernas do BUDO como KARATE-DO e
JUDO estão produzindo experts com um muito estreito conhecimento, e limitada
série de habilidades. Ele diz que eles treinam somente uma arma ou somente com
técnicas de mãos vazias, como no KARATE-DO, e que os modernos experts dos dias
modernos não estão ao nível dos experts de antigamente. Se isto é verdade,
porque o SHOTOKAN KARATE-DO não ensina seus estudantes a usar as armas
tradicionais para alargas suas bases de conhecimentos e habilidades?
NAKAYAMA- Eu penso que está crítica faz perder o propósito
do treinamento do BUDO como oposição para o propósito do treinamento do
bujutsu.
O estudo do bujutsu nos tempos feudais encorajava o
guerreiro para se tornar o mais proficiente possível no maior número possível
de armas. Isto era um acesso fácil para os guerreiros que estavam
frequentemente lutando em batalhas e frente a frente com inimigos em situações
regulares. Mas o propósito do BUDO não é adquirir um profundo conhecimento com
o propósito de lutar, mais que isto, o propósito do BUDO para ganhar um muito,
muito profundo conhecimento de sua arte como método para melhorar seu próprio
caráter e ver mais claramente e profundamente a natureza de sua própria
existência. Mestre Funakoshi, naturalmente, estudou muitas armas como o sai, bo
e nunchaku em Okinawa, mas quando ele mudou o KARATE-JUTSU para KARATE-DO, ele
seguiu o exemplo de outras formas do BUDO. Que ele interpretou a existência de
armas e técnicas, e ele escolhe aquelas técnicas que são fundamentais para o
sistema do BUDO e aquelas, se estudadas muito profunda e intensamente, poderiam
levar o estudante para o profundo entendimento do eficiente movimento do corpo,
defesa pessoal e assim por diante.
Se o propósito do BUDO ir mais profundamente para dentro da
vida, então esta aproximação faz sentido. Se você pensa sobre isto logicamente,
há simplesmente pouco tempo em nossa vida para se tornar mestre em um grande
número de armas ou sistemas ou diferentes artes, é possível se trabalhar bem em
um grande número de diferentes coisas, mas impossível tornar-se mestre em todas
elas. Nós nos concentramos nas técnicas do KARATE-DO e tentamos verdadeiramente
nos tornarmos mestres delas.
Isto é similar para o caminho da medicina ensinado para os
doutores hoje. Um médico pode ser um bom prático em várias áreas, mas não pode
ser um mestre em todas. Ele não pode se especializar em muitos aspectos da
medicina. Aqueles que querem se especializar fincam suas bases primeiro, e
então gastam muitos anos na escola estudando intensamente um particular campo
como ortopedia, oftalmologia ou cardiologia. Eles se tornam especialistas em
seu campo, e têm vastamente maior conhecimento sobre seu campo do que um médico
geral. No BUDO, a idéia é a mesma. Nos queremos ter um conhecimento geral,
básicas fundamentações sobre o movimento do corpo e defesa pessoal, e então nos
especializamos em uma arte particular.
Sua questão tem importância, é fundamental que as pessoas
entendam a diferença entre bujutsu e BUDO. No Japão pré-Tokugawa as artes
bujutsu eram estudadas amplamente pelos samurais, então, na época Tokugawa, as
artes foram separadas tornando-se distintas, artes individuais, com a espada,
lança, e ninjutsu, com o propósito de adentrar mais profundamente dentro destas
artes para pesquisar suas características com perfeição, e para individualmente
estudar as artes e eleva-las para o mais alto nível de desenvolvimento. A mesma
coisa aconteceu em Okinawa, onde os primeiros mestres de “mãos Chinesas” (TODE)
estudaram muitas coisas, de socos e chutes até arremesso de faca, então eles
separaram as artes e muitos estudaram um tipo enquanto outros se especializaram
em outros.
O outro ponto importante é que as idéias fundamentais da
maioria das formas de BUDO são as mesmas. Assim, Mestre Funakoshi tinha
estudado o uso de armas, e eu também, como um assunto a mais, e os movimentos e
técnicas do SHOTOKAN KARATE-DO são baseadas em movimentos aproximados aos
usados pelas armas – bo, sai, lança e ao outras, então, se alguém estuda e
adquire a maestria das técnicas do KARATE-DO, ele será capaz de com melhores
condições, facilmente pegar as técnicas destas armas. E eu quero enfatizar que
não há nada errado em ficar praticando e explorando os conhecimentos destas
técnicas ou outras artes marciais, mas é essencial nunca perder de vista os
propósitos do treinamento do BUDO, é melhor, creio eu, concentrar-se em tentar
a maestria de uma arte por completo, e isto demanda uma vida de seriedade e
árduo trabalho.
28. HASSEL- Nós sabemos que no KARATE SHOTOKAN há 15 KATAS
básicos – 5 HEIAN, 3 TEKKI, BASSAI-DAI, KANKU-DAI, JION, JUTTE, EMPI, HAGETSU e
GANKAKU – mas os estudantes da JKA praticam um outro conjunto de outros KATAS,
também. E em outras escolas de SHOTOKAN, muitos dos estudantes praticam o
TAIKYOKU e TEM-NO-KATA. O Sr. Poderia nos contar de onde vieram estes outros
KATAS e porque somos levados a praticá-los?
NAKAYAMA- A origem precisa de muitos destes KATAS estão
perdidas nos mistérios da história. No entanto, para ter um exemplo, o KATA que
nós chamamos de KANKU-DAI era primeiramente chamado KUSHANKU e nós o praticamos
exatamente da maneira como Mestre Funakoshi o interpretou. Mas ele deriva de
uma forma originalmente chamada KOSHUKON, e se credita este KATA aos
ensinamentos de um grupo de chineses a muitos Okinawanos. Muitas, muitas
pessoas aprenderam este KATA e então foram tomando caminhos diferentes,
desenvolveram e estudaram suas próprias formas. Antes de tudo, eles mudaram as
formas básicas do KATA para corresponder melhor ao seu estilo particular ou sua
estrutura corporal individual ou necessidades particulares.
Consequentemente existe, e são agora, muitas formas
diferentes de KATA, KOSHUKON. O mesmo é verdade para o BASSAI-DAÍ. Há muitas
versões de BASSAI quanto há no KOSHUKON. O famoso mestre Matsumura, era notável
por sua prática e desenvolvimento do BASSAI, e muitos aprenderam o KATA dele.
Novamente, estes indivíduos em muitos casos mudaram o KATA para se acertar à
suas próprias necessidades, e hoje o número de diferentes versões de BASSAI são
provavelmente centenas. Mas Mestre Funakoshi mudou a forma do KATA naquelas
partes onde sentiu que poderia ser mais eficiente, e nós praticamos esta forma
de KATA, então o KATA que chamamos de KANKU-SHO e BASSAI-SHO são simplesmente
conhecidas variações do KATA original, KANKU e BASSAI.
A forma que eles vieram a ser praticados entre os alunos de
Mestre Funakoshi é realmente um assunto de grande interesse ou significância.
Isto é uma questão de natureza humana. Muitos destes antigos estudantes, líder
entre eles estava o filho de Mestre Funakoshi, Yoshitaka, de tempos em tempos,
praticaria muitas das versões que ele tinha aprendido em algum lugar, e os
jovens estudantes ficavam fascinados. Nós imitávamos nossos seniores e lhes
perguntávamos se poderiam nos ensinar estas formas diferentes. Eles poderiam
nos ensinar, mas sempre nos diriam, “Não há nada de errado com a prática de
outras formas, mas lembre-se que vocês devem sempre se concentrar no domínio
das 15 formas básicas. Elas têm tudo de que vocês necessitam para o total
conhecimento do KARATE, e não devem negligenciá-las.”.
Um KATA que foi desenvolvido e introduzido por Yoshitaka
Funakoshi, por exemplo, foi o SOCHIN, SOCHIN era sua especialidade, e nós o
aprendemos dele, mas não é um dos 15 KATAS essenciais.
Mestre Funakoshi provavelmente considerava nosso desejo para
aprender estes outros KATAS como exuberância juvenil, mas não há prejuízo em
adquirir idéias de diferentes KATAS, proveitoso, mas não essencial segundo
Mestre Funakoshi.
Muitos deste KATAS vieram para dentro do sistema JKA porque
Mestre Funakoshi levou-me ao redor do Japão para visitar e retribuir a
gentileza de convites de outros velhos mestres em Osaka, Kyoto, Okuyama, e
Hiroshima. Nós deveríamos trocar idéias com estes mestres, e eles estavam
naturalmente, ansiosos para aprender os KATAS de Mestre Funakoshi. Houve uma
vez, eu me lembro, quando íamos visitar o fundador do SHITO RYU KARATE-DO,
Henwa Mabuni. Bem, Mestre Funakoshi já havia estudado os estilos de KARATE GOJU
e SHITO e tinha incorporado os elementos básicos destes estilos dentro do
SHOTOKAN. O KATA HEGETSU, por exemplo, é essencialmente um KATA do estilo GOJU.
Se alguém pratica o HANGETSU, torna-se fácil exercitar o KATA GOJU TENSHO e
SANCHIN, GANKAKU e EMPI, por outro lado são essencialmente do estilo SHORIN.
Mas Mestre Funakoshi nunca parou seus estudos de outras formas de KARATE, e
quando nós visitamos Mestre Mabuni, Mestre Funakoshi disse-me para aprender
GOJUSHIHO e NIJUSHIHO até nós poderíamos estudá-los mais cuidadosamente. Então
Kenwa Mabuni ensinou-me estes KATAS. Assim como um natural resultado de nossos
estudos destes KATAS, o KATA eventualmente mudou suas formas para conforme os
movimentos do KARATE SHOTOKAN, e são agora praticados por muitos de nossos
membros.
Mas a coisa mais importante que gostaria de dizer sobre tudo
isto é que me considero um homem felizardo por estar consciente de tudo isto.
Eu fui muito afortunado por treinar sob os cuidados do Mestre Funakoshi! Sua
genialidade vinha de seu profundo saber e de seu julgar. Ele literalmente criou
o KARATE SHOTOKAN de elementos de todos os diferentes estilos de KARATE
existentes. SHOTOKAN contém elementos tanto do GOJU-RYU e SHITO-RYU, e se uma
pessoa devota seus estudos para aprender os 15 KATAS de Mestre Funakoshi, ele
será capaz de facilmente compreender a essência de muitos outros estilos de
KARATE. Mestre Funakoshi estava olhando para o futuro quando criou o SHOTOKAN –
olhando para o dia em que o KARATE seria um só – e nós sempre estaremos em
débito para com ele por seu trabalho.
29. HASSEL- Sensei, o Sr. Disse que Mestre Funakoshi ensinou
a seus estudantes HEIAN, TEKKI, então BASSAI e KANKU, e então mudava para outro
KATA?
NAKAYAMA- Sim. O primeiro KATA aprendido era sempre o HEIAN
SHODAN.
30. HASSEL- O Sr. Poderia explicar, então de onde vem o KATA
praticado por muitas outras escolas de SHOTOKAN – TAIKYOKU-NO-KATA e
TEM-NO-KATA – qual sua origem?
NAKAYAMA- Mestre Funakoshi nunca nos ensinou estas formas.
Eles foram criados como métodos básicos de treinamento por Yoshitaka Funakoshi
e Genchin Hironishi, mas eles nunca forma ensinados pelo Mestre Funakoshi. Os
princípios destas formas não se ajustam aos princípios do KATA. Eles não são
KATA, eles são métodos básicos de treinamento. Mas eles nunca foram ensinados
pelo Mestre Funakoshi.
O propósito destas formas era preparar um método básico de
treinamento para ser usado antes dos estudantes aprenderem o KATA HEIAN. Mas
tanto antes quanto depois de minha viagem para a China, eu treinei com Mestre
Funakoshi virtualmente todos os dias, e ele nunca mencionou TAIKYOKU ou
TEM-NO-KATA.
Se isto é uma questão de interesse eu gostaria de apontar
para o texto oficial do Mestre, KARATE-DO KYOHAN. Se ele quisesse que nós
soubéssemos estas formas, porque ele não os colocou no KARATE-DO KYOHAN?
31. HASSEL- Sensei, estas formas aparecem na versão inglesa
do KARATE-DO KYOHAN.
NAKAYAMA- Realmente? Eu nunca lia a versão inglesa, mas eu
posso lhe dizer que eles positivamente não estão na versão original japonesa.
32. HASSEL- Sensei, muitos destes últimos 20 anos têm sido
dedicados para o desenvolvimento do esporte KARATE e hoje há torneios em todos
os lugares, virtualmente o tempo todo. O futuro do KARATE-DO, em sua opinião,
gira em torno do conceito de esporte KARATE e seu contínuo desenvolvimento?
NAKAYAMA- O KARATE alcançou seu presente alto nível de
desenvolvimento porque seus praticantes têm seguido exatamente os princípios de
Mestre Funakoshi. A coisa mais importante tem sido, e continuará a ser, a
prática vigorosa, saudável e forte, um KARATE fundamentalmente com o propósito
da educação física, de defesa pessoal, e a disciplina espiritual. O treinamento
do KARATE para o desenvolvimento do indivíduo – emocionalmente, fisicamente, e
espiritualmente.
O torneio de KARATE existe para divulgar o KARATE mais
amplamente para o público em geral. O esporte é uma boa maneira para se fazer
isto. Prova ao público que nós não somos um punhado de matadores maldosos e
imperfeitos, e ainda mostra a eles que qualquer um pode participar no KARATE,
e, se eles desejam, competem com segurança.
Agora se nós concentramos todo o desenvolvimento do KARATE
ao redor do esporte, nós perderemos nossa essência como uma arte marcial, e
obviamente, não quero que isto aconteça. Quero que o KARATE continue seu
desenvolvimento através das mesmas idéias e com os mesmos métodos que nós
tivemos no passado.
Antes dos estudantes competirem eles deveriam trabalhar
arduamente e consistentemente para adquirir uma forte fundamentação das bases e
um profundo conhecimento dos princípios espirituais do KARATE.
Na minha época, veja você, nós não tínhamos torneios ou
competições de espécie alguma. Nossa única competição era com a gente mesmo, e
este era o caminho que deveríamos seguir. Nós nunca treinávamos para conseguir
um ponto em um torneio. Nosso treinamento era essencialmente orientado para o
makiwara, e gastávamos horas e horas aprendendo como usá-lo. Nós deveríamos
começar batendo umas poucas vezes e gradualmente se desenvolvendo para o
instante em que poderíamos golpear em valores de 1000 vezes sem danos ou
injúrias. Nós geralmente fazíamos um aquecimento de aula socando o makiwara 500
ou 1000 vezes. Nosso único interesse naqueles dias era o desenvolvimento de
técnicas fortes, e acredito que é como deveria ser. Um sparring ensinará aos estudantes
tempo e distância, mas não há nada como o makiwara para desenvolver um corpo
forte e resistente. Sempre encorajo todos os estudantes a forjar seus próprios
músculos e talhá-los no makiwara todo o dia.
33. HASSEL- Com esta filosofia como base, como, então o
KARATE ESPORTE veio ocupar um lugar de tal importância no KARATE moderno?
NAKAYAMA- Como mostrei anteriormente, no início dos meus
estudos eu e muitos de outros jovens estudantes queríamos alguma forma de
combate porque já tínhamos um prévio treinamento no KENDO e JUDO. Nós não
estávamos satisfeitos com KATA o tempo todo. Mesmo ainda que relutante, Mestre
Funakoshi gradualmente começou a nos introduzir no 5 passos (GOHON-KUMITE), 1
passo (IPPON-KUMITE), e finalmente no combate livre. Eu não acho que ele
especialmente gostava de fazer isto, porque ele era muito severo no ponto que o
KARATE ”não era uma bárbara arte de combate”. De outro lado, ele compreendeu
que a nova geração queria ter alguma coisa a mais, e ele também queria o KARATE
ocupando uma posição igual ao JUDO e o KENDO.
Em 1935, vários clubes de escolas em todo o Japão estavam
num estado que chamamos de KOKANGEIKO (troca de cortesias e práticas). Estas
trocas foram pensadas em termos de práticas de KATA e 1 passo, com ataques
pré-arranjados e defesas que geralmente acabavam em disputas. Eu vi nariz e
mandíbulas quebradas, dentes arrancados e muitas orelhas partidas.
Eu estava dividido entre a crença que o KARATE fosse
qualquer coisa que pareça confronto. Com efeito, nosso torneio em 1957 foi o
primeiro campeonato de KARATE do mundo.
Meu grande interesse naquela época era assegurar que o
KARATE, se déssemos um aspecto esportivo, não perdesse sua essência como arte.
Portanto trabalhei muito projetando a competição de KATA, e norteei as regas,
nas regras da patinação e da ginástica. Minha esperança era preservar a
essência do KARATE-DO como uma arte de defesa-pessoal e abnegação, e para
prevenir “a excitação de confrontar” que provém da transformação do KARATE em
mero esporte.
34. HASSEL- Qual, então, sua opinião do moderno,
FULL-CONTACT KARATE?
NAKAYAMA- O FUL-CONTACT KARATE na América e Europa
certamente tem um lugar no mundo do KARATE, mas ele não é KARATE-DO.
DO significa “caminho” ou “trilha”, e isto significa que a
arte é um veículo para o aperfeiçoamento do caráter humano. O que é mais
importante para entender que esta busca do melhor caráter, não uma meta
temporária ou transitória. Ele é um longo processo de vida que deve ser buscado
todos os dias através dos treinamentos.
O esporte desenvolve os contendores numa linha estreita. O
que significa, eles treinam muito a parte física até se tornarem fortes, e
então competem. Como eles competem, eles se tornam cada vez mais fortes, e se
tornam campeões. Mas depois de um certo número de anos, o corpo começa seu
declínio, e os contendores já não podem competir eficientemente. Uma pessoa
progride firmemente através de um ideal limitado o qual é alcançado no auge da
juventude, e então a idade traz consigo um declínio vertical. KARATE-DO, por
outro lado, não tem semelhante limitação de ideal como de conquistar
competições, e o progresso humano na arte é como escalar uma série de degraus
ou caminhar num desfiladeiro. Com a mente e o corpo crescem juntos, o estudante
move continuamente para frente e para cima, um passo de cada vez. Assim quando
o corpo declina, há ainda outro passo para adiante na busca da perfeição do
caráter. Até o dia de sua morte, o processo é limitado, porque ninguém é
perfeito, mas nós podemos todos nos tornar um pouco melhor e continuarmos
tentando.
FULL-CONTACT KARATE é como Boxing que é baseado todo ele na
força – o mais forte vence. Ao mesmo tempo em que não há nada de errado com
isto, e certamente não há nada de errado com o contato, isto é muito
importante, acredito, desenvolver o espírito humano através do controle das
técnicas. Este é um dos pilares da competição do KARATE-DO. Para que se execute
uma veloz e vigorosa técnica e a paremos com perfeito controle e precisão,
exige-se total controle da mente. No esporte, a ênfase total controle da mente.
No esporte, a ênfase está num corpo forte: no KARATE-DO a ênfase está na mente.
Todas as coisas começam e acabam na mente, e isto dá ao Karateka qualidades que
ele pode levar no seu dia a dia e usa-a para seu benefício. Este controle
também capacita o Karateka a controlar seus golpes com toda sua força se
necessário. Numa situação de defesa pessoal, o Karateka inteiramente treinado
poderá sempre encontrar a distância correta, e o correto uso da força será
liberado no alvo.
35. HASSEL- O senhor acha que o KARATE poderá ser Olímpico?
NAKAYAMA: Não me oponho ao KARATE se tornar Olímpico, mas
tenho sérios assuntos sobre as conseqüências disto. Considere o que aconteceu
para o JUDO quando se tornou esporte Olímpico. Mesmo mantendo suas estruturas
como uma arte marcial, o JUDO mudou para se adaptar à estrutura das Olimpíadas.
A Kodokan perdeu o controle da arte, e os estudantes começaram a treinar
exclusivamente para adquirir a destreza competitiva que os tornaria capazes de
competir numa Olimpíada. Isto tem provocado um efeito devastador no JUDO do
Japão, e seus líderes estão agora num período de árdua auto-examinação. Eles
estão frente a um real dilema tentando trazer de volta o JUDO para suas origens
como arte marcial que pode ser praticada por qualquer um – jovem ou velho,
homem, mulher ou criança. O aspecto esportivo se tornou um ato de sobrepujar
outros de grande parte de judokas, e isto não está de acordo com os princípios
de Jigoro Kano (o fundador do JUDO).
Assim, acredito que se o KARATE entrar para as Olimpíadas,
será bom providenciar para que o KARATE não perca sua essência como uma arte
marcial – um caminho de vida que pode ser praticado por qualquer pessoa. Se
puder acontecer assim, tudo estará certo. Mas tenho sérias considerações sobre
isto, e certamente não penso que ganhar o reconhecimento Olímpico seja nossa
menta principal.
36. HASSEL- Sensei, justo na JKA hoje vemos competidores
usando protetores em suas mãos. Isto não está levando um tanto quanto para
longe dos conceitos originais do KARATE como arte marcial e mudando a arte para
um esporte?
NAKAYAMA- Atualmente, penso que isto poderá ajudar a
delinear mais claramente a diferença entre esporte KARATE e bases, o KARATE
fundamental. Realisticamente, se nós formos ter confrontos esportivos, então
nós devemos fazer todo o possível para que seja com segurança. E há pouca
dúvida que o KARATE vá crescer no futuro, e provavelmente um dia se torne um
esporte Olímpico. Quando isto acontecer, nós deveremos estar preparados para
mostrar ao Comitê Olímpico que nós temos proteções contra injúrias. Leves
protetores de mão são um passo nesta direção, e não penso que eles mudem
significantemente a face do KARATE como arte marcial. Eles são simplesmente um
invento para a prática segura do esporte competição.
Como via de regra, eles não são geralmente usados na JKA
excepcionalmente em confrontos de equipes em determinados torneios.
37. HASSEL - Qual sua esperança para o KARATE para daqui a
10 anos?
NAKAYAMA - Espero que daqui a 10 anos, as pessoas entendam
que KARATE é uma arte marcial e que eles ainda o pratiquem em suas bases
verdadeiras, como educação física, como defesa pessoal, e como um método de
desenvolvimento espiritual.
Particularmente na área do esporte, espero que os
contendores não o treinem simplesmente para ganhar um ponto. Espero ainda que
eles se lembrem das bases do KARATE como um meio de vida e treinem o básico e
busquem o IKKEN HISATSU – para o oponente com um golpe. Espero que eles
pratiquem para ter um golpe forte e um chute forte. Se eles continuarem a
treinar neste sentido, eles serão capazes de controlar suas técnicas. Se
praticarem simplesmente para conseguir pontos, entretanto, nunca serão capazes
de controlar suas técnicas ou a eles próprios. Esse tipo de treinamento os
levará para muitos prejuízos.
No futuro o KARATE será como foi no passado. Isto é,
estudantes que treinam seriamente sob os cuidados de um bom instrutor primeiro
irão adquirir boa saúde dos exercícios físicos. Este treinamento os levará
apara fortes técnicas básicas e boa habilidade na defesa pessoa. Depois que
estes dois fatores tiverem sido obtidos, então não haverá nada de errado em
competir para testar-se com outros – técnica contra técnica, espírito contra
espírito. Treinando desta forma leva-se para uma boa competição ou torneio no
qual os contendores exibem um KARATE real, verdadeiro.
Assim, quando digo que o KARATE possui três aspectos, digo
que isto é aplicável como educação física, como defesa pessoa e como um novo
estilo de arte marcial – esporte. Subjacente a todos estes aspectos as bases
fundamentais do KARATE servindo o indivíduo para o desenvolvimento espiritual.
Todas as modernas artes marciais, como JUDO, por exemplo, têm esta conduta,
também originalmente, quando as técnicas de KARATE foram primeiro
desenvolvidas, o raciocínio era muito simples nós estamos frente a frente, e
então ou você me mata ou eu vou te matar. Estas artes nasceram em épocas de
guerra. Nos tempos modernos, entretanto, nós não estamos face às mesmas
situações como aquelas que primeiro usamos para autoproteção.
O desenvolvimento do BUDO em oposição ao bujutsu recai sobre
o princípio do forte desenvolvimento espiritual e na firmeza do caráter. Este é
o real valor do BUDO para a existência humana. A coisa mais importante para as
futuras gerações terem em mente é que o KARATE serve para desenvolver uma
filosofia, uma prática de vida. Se isto for primeiro desenvolvido nos
contendores, não haverá problema com as competições esportivas. Nós devemos
simplesmente ter em mente nossos propósitos fundamentais.
38. HASSEL - Virtualmente todos os instrutores da JKA no
Ocidente, todos Japoneses e Americanos, dizem a mesma coisa que o Sr. Está
dizendo sobre a importância de estudar o KARATE-DO como um modo de vida e
desenvolvimento espiritual, mas é muitas vezes difícil de compreender este
profundo desenvolvimento continuando no dojo. Em outras palavras, nós falamos
sobre desenvolvimento espiritual, mas parece ter lugar uma espantosa ênfase no
esporte. Vinte anos atrás, por exemplo, havia muito pouca ênfase no combate
livre para competição, e uma grande ênfase para o IPPON-KUMITE e o
JYU-IPPON-KUMITE. O Sr. Pensa que estamos nos movendo na direção certa neste
momento, ou estamos nos afastando dos ideais do treinamento do KARATE como o
Sr. Os compreendeu?
NAKAYAMA- Eu penso que este é um tempo de extrema
dificuldade para o KARATE-DO e para aqueles que estão tentando ensina-lo
corretamente. Nós estamos no ponto principal na história do desenvolvimento da
arte e, de uma forma ou de outra, penso que as coisas estão progredindo de uma forma
correta. O que devemos entender é que, do ponto de vista da história, não há
muitos anos atrás o KARATE era praticado somente em completo segredo. Não penso
que era muito melhor para a arte do que treinar somente para a competição possa
ser. O ponto é que os tempos mudaram, as circunstâncias mudaram, e as pessoas
se ajustam às suas artes para estes tempos e circunstâncias.
O que nós precisamos, acredito, é um equilíbrio em todas as
coisas que fazemos. O esporte KARATE é uma inovação, e requer muito mais tempo
antes que possamos assimilá-lo completamente e nos ajustar para isto.
Penso que os instrutores na JKA, tanto no Japão quanto na
América, estão fazendo um bom trabalho estudando os aspectos esportivos da arte
e estão transmitindo-o da forma correta. O que precisamos é de tempo. No
momento certo, tanto quanto mais estivermos ligados aos princípios fundamentais
do Mestre Funakoshi, nós encontraremos o equilíbrio entre o esporte competição
e o treinamento básico.
39. HASSEL - A maioria dos instrutores certamente
concordarão que este é um tempo difícil para ensinar KARATE-DO. Qual o conselho
específico que o Sr. pode lhes dar para ajuda-los a realizar suas tarefas
eficientemente?
NAKAYAMA - Posso lhes dizer, não mais que, manter-se
treinando diligentemente em sua arte e manter sua mente focada nos princípios
do Mestre Funakoshi de um KARATE como um caminho de vida. Se eles fizerem isto,
terão sucesso. Francamente, tanto quanto mais os instrutores processem desta
forma, não tenho dúvidas sobre o futuro do KARATE-DO.
40. HASSEL - O Sr. Disse que os tempos estão mudando, e que
nós devemos procurar um balança entre todos os aspectos da arte. Isto
significa, então, que os instrutores deveriam ensinar os preceitos básicos do
KUMITE como IKKEN HISATSU (parar o oponente com um único golpe) separadamente
do KUMITE para competição? Em outras palavras, há diferença entre combater no dojo
no treinamento diária e combater em competição?
NAKAYAMA - Não, absolutamente não. No sentido de HEIJO-SHIN
KORO MICHI, que expliquei anteriormente, o Karateka deve treinar diariamente e
estar preparado o tempo todo para fazer aquilo que for necessário. Ele deve
estar calmo e atento, enquanto ele treina no dojô, fazendo seu desjejum, ou
competindo no SHIAI. Se nós treinamos seriamente no dojo, aprendendo e
aplicando os princípios básicos, então nós estaremos prontos para qualquer
coisa que aconteça, o tempo todo.
O correto treinamento sob as diretrizes dos princípios do
KARATE torna o Karateka apto a andar fora do dojo e defender-se se necessário,
ou sair do dojo para uma competição de SHIAI. Se os princípios básicos estão
corretos, não fará diferença o que o Karateka estiver fazendo. Os princípios
são os mesmos, e eles servem o Karateka bem o tempo todo, em qualquer
circunstância. Eu sei que isto é difícil para compreender e muito mais difícil
par ensinar, mas não deve haver separação das técnicas entre as categorias de
defesa pessoal, esporte, e assim por diante. Considere que técnica é técnica, e
se o Karateka está treinando adequadamente, ele será capaz de usar seus
treinamentos para se defender e para competir. Se um estudante está treinado
somente para competição, por exemplo, e ele é surpreendido enquanto caminha
para o local de torneio, ele estará em sérios apuros. Não parece ridículo – um
campeão de torneio que não pode se defender numa real situação? KARATE-DO serve
para desenvolver o indivíduo como um todo, e este indivíduo que deve responder
por qualquer situação que surja. Se ele pode somente responder em um torneio,
há alguma coisa drasticamente errada com seu treinamento.
41. HASSEL - Finalmente, Sensei, se o Sr. permitisse um
tempo para dizer somente mais uma coisa para as pessoas que estão treinando no
KARATE da JKAS hoje, ambos alunos e instrutores, o que o Sr. Diria para eles?
NAKAYAMA - Eu lhes diria para meditar nas palavras de Anton
Geesink, o holandês que derrotou os japoneses e venceu o Campeonato Mundial de
Judô. Geesink enfrentou e venceu o maior competidor de JUDO Japonês, e ele
sacudiu as próprias bases das artes marciais japonesas. Era impensável que um
jovem Europeu pudesse habilidosamente e claramente destruir os mestres japoneses
em sua própria arte. Mas foi exatamente o que ele fez.
Eu me lembro que os líderes do JUDO e de muitas outras artes
marciais no Japão ficaram num tremendo alvoroço, e fizeram um elaborado e
detalhado plano para estudar os “segredos” de competição de Geesink.
Ultimamente, eles arranjaram para um jornalista japonês uma entrevista profunda
com Geesink para tentar descobrir os métodos de treinamento que este homem
tinha usado para derrotar o japonês. A resposta de Geesink foi talvez a mais
importante declaração que eu tenha ouvido em todos os meus anos no KARATE-DO, e
nunca vou me esquecer. Ele disse: “Os japoneses têm se dedicado para o estudo
do JUDO competição. Eles têm dado extraordinários avanços para desenvolver
contendores vencedores e times campeões.
Eu, por outro lado, nunca treinei para competição em minha
vida. Tudo o que tenho feito é treinar JUDO como uma filosofia de vida,
exatamente como Dr. Kano disse. Enquanto os Japoneses estavam planejando
estratégias competitivas, eu estava no dojo, praticando fundamentos e KATAS. Eu
derrotei o Japonês porque EU SABIA JUDO MELHOR QUE O JAPONÊS.
“O segredo é treinar todos os dias nos princípios. Isto o
tornará invencível “.
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